Ex-secretário do PSDB acusa Anchieta de ter usado jato para comprar votos

Segunda Feira 31 de Outrubro de 2011


VANESSA LIMA

BOA VISTA - O ex-secretário executivo do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Gerson Denz, afirmou em entrevista à revista Veja, que circula esta semana e só chega a Roraima hoje, que durante as eleições 2010 o governador Anchieta Júnior (PSDB) utilizou o jato oficial pertencente ao Governo do Estado para transportar dinheiro a fim de bancar sua campanha para a reeleição.

Conforme a denúncia, “o dinheiro voava dos cofres de empresas prestadoras de serviços do governo para os cofres da campanha do candidato tucano” no jato oficial. O dinheiro seria recolhido e distribuído no Estado pelo próprio governador, usando o jato prefixo PR-ERR. Em uma mochila preta, Anchieta teria acondicionado meio milhão de reais apenas em uma única viagem.

Denz teria trabalhado nas duas campanhas de Anchieta, a de 2006 e a do ano passado. Ele informou ter sido uma espécie de administrador do comitê central do tucano, o que lhe permitiu saber como eram tratadas pessoalmente pelo governador as finanças eleitorais.

Diferente do que foi declarado pelo PSDB à Justiça Eleitoral, como gastos de campanha - algo na ordem de R$ 9,7 milhões -, a reeleição de Anchieta teria custado aproximadamente R$ 50 milhões.

Segundo Gerson Denz, parte do dinheiro foi arrecadada com as empreiteiras responsáveis pela manutenção da BR-174, principal rodovia do Estado que já consumiu mais de R$ 1 bilhão.

O Ministério Público Federal (MPF) investiga as doações de campanha feitas pelas empresas Via Engenharia, Delta Construções, CMT Engenharia e Engesa (do consórcio Seabra - Caleffi), vencedoras de licitações da rodovia, a candidatos e  partidos de R$ 12,1 milhões, dentre eles Anchieta Júnior e o senador Romero Jucá (PMDB).

Denz acusou o PSDB de “forjar doações que nunca existiram para esquentar dinheiro de caixa dois”. Muitos doadores estariam apenas emprestando o nome para justificar a origem do dinheiro destinado ao partido. “Tinha dias que se formavam filas imensas no comitê. Até o tesoureiro da campanha e o secretário de Fazenda aparecem fazendo doação”, afirmou Gerson Denz à revista.
O tesoureiro do PSDB, Marcelo Moreira, afirmou que as acusações feitas por Gerson Denz são levianas e que as mesmas têm um tom não só partidário, mas político. Em entrevista à Folha, ele preferiu tratar pontualmente sobre cada acusação.

Conforme Moreira, Gerson nunca esteve à frente da Secretaria Executiva do PSDB. De forma voluntária, ele teria trabalhado apenas na parte administrativa do partido, organizando e preparando cheques para o pagamento de despesas em geral. Na campanha de Anchieta Júnior, ele teria ficado responsável pelo registro dos candidatos.

Moreira apresentou à equipe de reportagem cópia do inquérito policial de número 092/11, de 19 de agosto, registrado no 1º Distrito Policial, que o partido move contra Gerson Denz. A acusação é de apropriação indevida de verbas do PSDB enquanto trabalhou na parte administrativa do partido.

“Ele responde a um processo criminal. Foi afastado do partido por ter roubado. Os encargos do partido do INSS que eram para serem pagos mês a mês, na verdade, ele fez cheque nominal a ele. Ele sacou o valor e não pagou as despesas. Em auditoria, foi descoberto algo em torno de R$ 20 mil de impostos não recolhidos que o partido teve que pagar de novo”, disse Moreira.

Denz não teria repassado ainda os documentos para o contador fazer a prestação de contas do PSDB. Em função disso, o partido não fez a prestação de contas dentro do prazo e perdeu durante dois meses o fundo partidário.

De forma sucinta, o tesoureiro afirmou que a campanha de Anchieta custou R$ 9 milhões e que todos os valores recebidos foram declarados. Sobre a possível utilização do jato oficial para arrecadação de dinheiro, ele destacou que a única pista que o jato pousa é a de Boa Vista. “Nem que ele quisesse poderia fazer distribuição em dinheiro dentro do Estado”, complementou.

“Depois de um ano das eleições ele vem fazer esse tipo de denúncia. Para gente, a motivação é muito clara, que é o fato do processo criminal movido contra ele. Em função de o governador estar às vésperas de julgamentos eleitorais no Estado e no TSE [Tribunal Superior Eleitoral], há também o fato dele estar sendo utilizado pela oposição”, destacou.

Ainda conforme Moreira, o partido em nível nacional vai em busca de direito de resposta da matéria publicada pela Veja e tomará medidas judiciais contra Gerson Denz. “Ele vai ter que provar cada ponto desses relatado, senão vai ter agora um segundo processo a responder por calúnia e difamação”, disse.  

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