Garoto de 14 anos que faz faculdade nos EUA tem avós brasileiros e torce pelo Inter-RS

Segunda 27/02/2012
Arquivo Pessoal


Rafael Targino 
Do UOL, em São Paulo

O americano Moshe Kai Cavalin, 14, é formado em astrofísica, está terminando a graduação em matemática, pratica artes marciais, acaba de lançar um livro e detesta ser chamado de gênio. Não bastasse, ainda torce pelo Internacional de Porto Alegre, diz que sua frase predileta em português é do ex-governador Leonel Brizola (1922-2004), tem avós brasileiros, acha que a educação do país não deixa os bons estudantes se desenvolverem e pensa em vir ao Brasil assim que terminar o curso.

O estudante tem tripla nacionalidade: americana (ele nasceu na Califórnia), chinesa e brasileira. Em entrevista por e-mail ao UOL Educação, Cavalin ainda arriscou algumas palavras em português e pediu que seus "irmãos brasileiros" visitassem seu site.

UOL Educação: Quando você se forma?

Moshe Kai Cavalin: Ou no outono de 2012, ou no inverno de 2013. Isso depende se eu vou querer ter aulas no verão ou não. No verão, estou pensando bastante em parar um pouco de estudar e fazer algumas coisas que estão na minha lista: tirar minha carteira de motorista, começar a aprender a pilotar um avião, mergulhar e praticar artes marciais.

Sou jovem e não estou com pressa de me formar. Não me preocupo com recordes e, se isso acontecer, é um efeito colateral. Eu ando no meu próprio ritmo e diminuo quando sinto que é hora de ‘sentir o perfume das flores’. Formar-se com 14 ou 15 anos ainda está bom, não?

UOL: Depois de se formar, quais são seus planos?

Cavalin: Eu só tenho 14 anos. Tenho muitas portas abertas e muitas escolhas. Sou como uma criança na loja de doces.

UOL: Você disse que torce pelo Internacional de Porto Alegre. Quem te apresentou o time?

Cavalin: Meu pai. Ele é colorado, botafoguense e Noroeste de Bauru. Imagine só! Eu também, mas colocaria na lista o Real Madri e o Internazionale [de Milão].

UOL: Você tem alguma frase ou citação predileta em português?

Cavalin: “Coma a sopa quente pelos cantos”, citando o grande Leonel Brizola. (Essa frase é uma lição de vida. Não desista, ataque os problemas com sabedoria e você não se queimará –ficará feliz, satisfeito e nutrido depois de comer uma deliciosa sopa ou ter enfrentado o problema).

UOL: O que você acha do sistema educacional brasileiro?

Cavalin: É muito rígido (não dá espaço para os estudantes brilhantes) e tem poucas escolas (o que não dá oportunidade para todos os brasileiros). Foi o que li sobre ele.

UOL: Seus pais lhe pressionam de alguma forma para estudar? Por exemplo, eles regulam quando você pode ver TV ou praticar esportes?

Cavalin: Não mesmo. Eles tentam me desacelerar. Muitas pessoas criticam meus pais sobre minha [suposta] infelicidade, pela infância perdida e por me “pressionarem”. Eles me ensinaram a sempre estar ocupado com o que eu queria fazer. Ser um “fazedor” e não um “espectador”, assistindo a vida passar. Meu conselho é: não seja invejoso. Trabalhe mais, foque-se e seja resistente e você pode fazer melhor do que eu.

É verdade, não brinquei no parque livremente com outras crianças, mas treinei artes marciais com outras crianças e adultos no parque. Não brinquei de esconde-esconde com outras crianças, brinquei de esconde-esconde no oceano com os peixes e mergulhei em cavernas maravilhosas. Eu fiz carinho e nadei com golfinhos e toquei em estrelas e ouriços do mar no fundo do oceano. Foi uma sensação incrível poder participar desse mundo maravilhoso e silencioso no qual você vê a presença do Todo-Poderoso. Posso ficar comparando muito mais, mas acho que é o suficiente.

UOL: Você não gosta de ser chamado de gênio e diz que o caminho é esforço e foco.

Cavalin: Não gosto de ser chamado de gênio porque não sou. Qualquer um que trabalhe duro, com pensamento firme e coração resistente, vai conseguir mais para um futuro melhor. Não perca tempo com TV e coisas que fazem a vida passar. Você é o “fazedor” e não o observador e, se você começar isso ainda criança, mais longe irá.

UOL: Ser um gênio, então, não faz diferença? Esses são os caminhos do sucesso?

Cavalin: Eu acho que não faz, mas aqueles que são gênios devem usar a genialidade para um mundo melhor. Eu acredito que sabedoria aplicada é preferível à genialidade.

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