Rio Negro atinge maior cheia da história do Amazonas

16/05/2012
Em todo o Estado, já são 52 os municípios em situação de emergência por causa das inundações. Mais de 75 mil famílias foram afetadas.


Juçara Menezes portalamazonia

MANAUS O ano de 2012 entra para a história como o ano da maior cheia do rio Negro. Na manhã desta quarta-feira (16), as águas do rio alcançaram a marca de 29,78 m, ultrapassando em 1cm os registros de 2009 – data anterior da enchente  recorde no Estado. O fenômeno faz o rio avançar sobre a orla da capital, atingindo vários bairros e afetando pelo menos 3 mil famílias, segundo números do SOS Enchente.

O novo recorde vem há exatos 20 dias da Prefeitura de Manaus haver decretado situação de emergência. Desde então, quando a Defesa Civil Municipal estimou um total de 3,6 mil famílias afetadas pela enchente, os efeitos da subida rápida do rio Negro indicam que a previsão deve se concretizar até o pico da cheia, previsto para o mês de junho.
Para se ter uma ideia da série de transtornos causados pelo avanço recorde das águas, pelo menos 150 pessoas já perderam o emprego em Manaus. Segundo o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas da capital (CDL-Manaus), Ralph Assayag, as demissões são consequência dos prejuízos amargados pelas lojas do Centro da cidade, onde o movimento caiu severamente. Pelos cálculos da entidade, mais de 100 estabelecimentos já foram atingidos – sendo que 30 deles fecharam as portas por não terem mais como comercializar seus produtos.

Algumas das vias mais afetadas são as ruas dos Barés e São Domingos e a Avenida Eduardo Ribeiro. Naquelas vias, trabalhavam cerca de 700 profissionais. Com o fechamento, mesmo que temporário dos comércios, cerca de 20% da mão de obra teve de ser dispensada. “É claro que pensamos em retomar estes empregos, mas somente quando a situação for normalizada. O movimento caiu mais de 50% na região, apesar do trabalho do governo do Estado, com as pontes, e da Prefeitura de Manaus na parte dos mercados”, analisou.

Os comerciantes sentem dificuldades para transportar e armazenar mercadorias nos depósitos. O empresário Antônio Penha precisou alugar um espaço para não perder os produtos. Os itens estavam em um local na Rua dos Barés, interditada por conta das alagações. Outra preocupação do presidente diz respeito ao prédio do Porto de Manaus. Uma grande loja de departamentos, instalada no local, corre o risco de ser alagada caso as águas atinjam o nível máximo previsto: 30,13 metros.

Esta é a maior cheia dos últimos 100 anos, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), que monitora a bacia hidrográfica amazônica desde 1902. Desde então, outras grandes enchentes foram registradas em 2009 e 1953, quando o rio Negro chegou aos níveis de 29,77 metros e 29,69 metros, respectivamente. De acordo com o superintendente do órgão, Marcos Antônio de Oliveira, a cheia da década de 50 trata-se de uma  enchente que ocorre a cada 100 anos. Sobre a grande cheia em 2009, a história é de um evento deste porte a cada 50 anos.

Oliveira lembra ainda que há outros ciclos que podem “esconder” enchentes tão – ou até mais – intensas que a deste ano. “É o caso das cheias do ciclo de 500 anos ou mesmo de mil anos. Estas não estão em nossos arquivos, pois os dados começam em 1902”, ponderou. Para estudar esse período anterior ao das medições, o CPRM iniciou a procura de registros nos sedimentos ao longo do rio Amazonas. Quando o período é de cheias, uma marca com algas é feita pela ação natural das águas. Já na seca, um depósito de sedimentos grosseiro define o tamanho da vazante. Os estudos são realizados no Largo do Janauacá, em Manacapuru.

Interior do Amazonas

Ao todo, já são 52 os municípios amazonenses em situação de emergência por causa da cheia. As últimas cidades a entrar para a lista da Defesa Civil do Estado foram Boa Vista do Ramos, Codajás, Maués e Uarino. Dessas, 32 cidades já recebem ajuda humanitária com o envio de cestas básicas, kits de higiene pessoal, kits de limpeza, medicamentos, kits dormitório, além de filtros microbiológicos, hipoclorito de sódio.
Em todo o estado, mais de 75 mil famílias foram afetadas pelas inundações. As cidades de Borba, Tapauá, Manaquiri, Urucará, Careiro Castanho, Fonte Boa, Alvarães, Parintins, Rio Preto da Eva, além de São Sebastião do Uatumã, Tefé, Jutaí, Japurá, Maués, Codajás, Boa Vista do Ramos e Uarini devem receber o auxílio nos próximos dias.




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