De canoa, espanhóis encaram mais de 3 mil quilômetros em rios da Amazônia

26/07/2017
Foto: EM TEMPO
Fonte: Mara Magalhães

O imaginário por parte do estrangeiro sobre a Amazônia continua a ser de um local exótico, repleto de fantasias e mundos estranhos. Era essa a visão que o espanhol Javier Colorado, de 31 anos, tinha antes de conhecer a região. Engenheiro químico por formação e aventureiro por opção, acompanhado do também espanhol e fotógrafo Manuel de Salvador, atravessou a Amazônia em uma canoa e percorreu mais de 3 mil quilômetros, do Equador até Manaus.

A aventura começou no dia 20 de abril, no Equador. Antes da partida, o espanhol ajudou a construir as duas canoas que seriam utilizadas na viagem, embarcações com cinco metros de cumprimento, com espaço suficiente para transportar a comida, água e um pequeno fogão, à base de gasolina.

E quem pensa que essa é a primeira aventura do espanhol, se engana. Ele já rodou o mundo em uma bicicleta, realizando um percurso que durou três anos e dois meses. Inclusive, foi nessa aventura que conheceu o fotógrafo Manuel.

Com exclusividade ao EM TEMPO, Javier contou que a ideia de atravessar a Amazônia de Canoa começou a ser alimentada no Equador. “Durante o percurso da volta ao mundo, passei pelo Equador e lá conheci uma pessoa que havia feito o percurso até Manaus. Prometi a mim mesmo que, se conseguisse terminar a volta à terra de bicicleta, voltaria ao Equador e iniciaria a viagem pela região. Quando passei pela África, conheci o Manuel, que também estava fazendo uma viagem de bicicleta. Falei para ele sobre a ideia de atravessar a Amazônia de canoa, e ele se interessou. Voltamos para Madri, buscamos patrocínio e aqui estamos.”, disse.

A viagem

“Havia momentos que a gente remava e não via ninguém, só céu, água e floresta”

A viagem do Equador até Manaus durou cerca de três meses e uma semana. Os amigos iniciaram o percurso no Rio Tiputini, atravessaram o Parque Nacional Yasuní, no Equador, onde viram uma das maiores biodiversidades do mundo. Passaram pelo Rio Napo e chegaram até à cidade de Iquitos, no Peru. De lá seguiram em direção à Letícia, na Colômbia. Pelo Solimões, chegaram até ao município de Tabatinga, no Brasil.

“Havia momentos que a gente remava e não via ninguém, só céu, água e floresta. Uma coisa inacreditável. A gente decidiu viajar sozinhos, nas duas canoas, mesmo sem nenhuma lancha para dar apoio. Queríamos a liberdade. Sou um aventureiro em experiência, diz Javier.

Movidos pela curiosidade, os espanhóis percorreram vários municípios do Amazonas, como Jutaí, Fonte Boa, Alvarães, Amaturá, Tefé e Coari, até chegarem à capital do Amazonas. Durante o trajeto, Javier comemorou o aniversário de 31 anos, em uma típica comunidade de Amaturá, no dia 21 de junho. Cada dia era uma aventura. “Nosso café era arroz com peixe”, diz, aos risos.

Durante a viagem, a dupla teve problemas no trecho de Alvarães para Tefé. Nessa região, foram confundidos com narcotraficantes pela Polícia.

“Estávamos saindo de Tefé, quando uma lancha com policiais nos pararam. Eles pensaram que fossemos narcotraficantes. Fiquei bastante assustado, eles apontaram as armas na nossa direção e gritamos: ‘Somos turistas, somos gringos’. Eles revistaram nossas bolsas e viram que não havia nada, mandaram a gente entrar no barco e nos deixaram nas proximidades de Coari”, contou o turista.

Questionado sobre o medo diante da selva desconhecida, o espanhol diz que só sentia medo de ser atacado por piratas. Já havia sido alertado sobre a existência deles, no rio Solimões.

Hospitalidade

Javier Colorado contou que ficou encantado com a hospitalidade dos ribeirinhos. “Em toda comunidade que chegávamos, falávamos com os presidentes ou líderes e pedíamos permissão para armar a barraca e passar a noite no local. Éramos muito bem recebidos, o povo é muito hospitaleiro. Passamos em duas aldeias indígenas e fomos bem recebidos também”, contou, ressaltando que pretende voltar, em outra oportunidade.

Documentário

“Será um documentário do ponto de vista de um guerreiro”

Javier pretende fazer um documentário sobre a viagem. “Será um documentário do ponto de vista de um guerreiro, vou mostrar como foi a viagem, as sensações, emoções, como as pessoas vivem na Amazônia, a mentalidade do povo, a estrutura social. Por onde passei entrevistei pessoas. Nunca havia viajado para o Amazonas. Durante a volta ao mundo, só passei pelo sul e sudeste do Brasil”, disse.

O espanhol escreve em um diário os relatos sobre as aventuras. “Escrevo como foi meu dia, o que comi, se estou triste ou feliz. Da volta ao mundo, fiz um livro solidário, em que a renda foi destinada às crianças da África. Sobre a viagem na Amazônia, só farei mesmo o documentário. As pessoas de outros países pensam que na Amazônia tem a anaconda, falavam-me para não colocar a mão na água, pois poderia ser atacado por piranhas e crocodilos. Meu objetivo é mostrar para o mundo que a Amazônia não é nada disso, mas sim um local maravilhoso”, falou.

Experiência

“Foi uma experiência única. Todo mundo precisa conhecer a Amazônia”

Para Javier, o fato de ter atravessado a Amazônia de canoa, traz uma sensação de plenitude. Levará a experiência para a vida.

“Foi uma experiência única. Todo mundo precisa conhecer a Amazônia. É muito impressionante. Há comunidades que não contam com eletricidade e nem sinal de telefone. Visitei lugares onde viviam somente 40 pessoas. Vou levar uma grade lição desse povo: a união, eles são muito unidos. Se alguém tem problemas numa casa, todos ajudam. Foi lindo ver aquela solidariedade, algo quase inacreditável nos dias de hoje”.

Javier e Manuel viajam para Madri, na Espanha, no próximo domingo (30) e já tem destino para a próxima aventura. “ Vou passar uns três meses em casa com a minha família, depois irei para a África. Sinto-me feliz viajando, conhecemos pessoas novas”, adiantou.

O espanhol levará a canoa que usou na aventura na Amazônia para Madri, onde irá leiloá-la. O recurso será destinado para jovens da África. A outra canoa, usada pelo amigo Manuel, apresentou problemas e foi deixada com uma família no Paracuúba, em Iranduba.

Todas as aventuras, além da memória, foram registradas pelas lentes de Manuel. Os amigos pretendem fazer uma exposição com as fotos da viagem.

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