Indíces alarmantes de HIV e sífilis em aldeias indígenas na Amazônia

Sábado 03 de Setembro de 2011

Pesquisas do Ministério da Saúde mostram o crescimento das doenças em regiões como o alto Solimões e rio Negro

Marina Souza - portalamazonia

MANAUS - A colonização da Amazônia por europeus dizimou milhões de indígenas da região, no século XVI, ao trazer doenças desconhecidas pelos nativos. Até uma simples gripe era fatal para este grupo.

Atualmente, enfermidades do “homem branco” voltam a assustar os habitantes da Floresta. Índices preocupantes de uma pesquisa do Ministério da Saúde (MS) mostram o crescimento de Doenças

Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como sífilis e Aids, em aldeias indígenas.
Mais de 45 mil pessoas que vivem em aldeias remotas ou em localidades de difícil acesso no Amazonas e Roraima passaram por testes médicos. Cerca de 18,59% dos índios avaliados apresentaram resultado positivo para a sífilis apenas na região do Alto Solimões. O número representa um índice elevado da doença, até mesmo comparados à estatística da população geral do país. Também foram estudadas as áreas do Leste de Roraima, Alto Rio Negro, Médio Solimões, Vale do Javari e terras indígenas próximas à Manaus.



Já o vírus HIV, causador da Aids, é encontrado com menor frequência, porém também deixa as autoridades em alerta. Enquanto o índice na população geral do país o número de soropositivos é de 0,6%, entre os povos indígenas os dados chegam a 3,4% em aldeias do Alto Rio Negro. A prevalência da doença em indígenas gestantes também preocupa: 0,08% das futuras mães de todas essas tribos possuem a doença e, sem tratamento adequado, podem transmitir para os bebês.



De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), as DSTs são transmitidas por fatores internos, como o desconhecimento sobre as doenças, abuso de álcool e a viagem de indígenas a centros urbanos; e externos, como a ocupação ilegal de não-indígenas, o trabalho de missões religiosas e a presença das Forças Armadas em áreas remotas.

Outro fator alarmante é a resistência destes povos ao uso de métodos para prevenir as DSTs, além da própria falta de conhecimento destes. O antropólogo Christian Ávila explicou ao Portal Amazônia que, se até mesmo na sociedade moderna há oposição ao uso de preservativos, essa característica é muito maior dentro das aldeias. “Para algumas etnias é considerado errado. Há também o problema da logística: é dificílimo encontrar ‘camisinhas’ nas aldeias. Estes produtos não chegam lá com tanta frequência”, afirmou.

Combate às DSTs

Atualmente, o Ministério da Saúde realiza prevenção diferenciada com povos indígenas. Em nota, a pasta informou que as ações são realizadas respeitando as especificidades de cada cultura. “A abordagem e o aconselhamento é pensado e trabalhado nas aldeias dentro da peculiaridade de cada etnia. Os resultados obtidos devem ser enfrentados de acordo com a ética da medicina ocidental, mas o modo como cada etnia entende essas doenças também está nos planos de ações”.

O tratamento nos casos de diagnóstico de sífilis é realizado na própria aldeia e tem início imediatamente após a confirmação da doença. Os portadores de HIV são removidos para centros do Sistema Único de Saúde (SUS), em municípios próximos das aldeias onde vivem.

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