.Canoas: transporte, fonte de renda e estilo de vida na Amazônia

26/04/2014
Manoel e Elias exercem profissões diferentes, mas com um elemento em comum: a canoa do homem ribeirinho

Foto: Elias Moraes/Reprodução


Portalamazonia


MANAUS – Para construir uma canoa de madeira, é necessário embrenhar-se na mata e conhecer bem a árvore ideal para a fabricação. Em seguida, arrastá-la e cortá-la em tábuas, que serão pregadas para, então, passar pelo processo de calafetamento, onde os espaços entre as pranchas são vedados. O acabamento final é a pintura, e só após todo esse processo a canoa vai ao rio. Esta tarefa Manoel conhece muito bem. Filho de carpinteiro naval, ele acompanhava o pai na construção das pequenas embarcações. Aula prática no meio da floresta. Já o fotógrafo Elias utilizava a canoa para deslocar-se entre as comunidades onde morava na infância. O que antes era meio de transporte hoje virou inspiração. Profissões diferentes com histórias em comum.


A canoa sempre teve presente na vida de Manoel de Lima da Silva. “Ela é exemplo de vida. Com ela a gente fica mais próximo um dos outros”, disse emocionado. Nascido na comunidade de Marchetaria, banhada pelo rio Solimões, no município de Iranduba (AM). De uma família de cinco irmãos, ele conta que o pai trabalhava como seringueiro, agricultor, pescador e carpinteiro naval, profissões típicas de quem vive na maior floresta tropical do mundo. Foi assim que Manoel adquiriu a profissão de carpinteiro de canoa de madeira, de onde tira o sustento da família.




Hoje, Lima mora numa pequena casa localizada na comunidade do Ebenezer, no Igarapé do Quatá rio Tarumã, onde vive com a mulher e os quatro filhos. Trabalha no extrativismo e na agricultura de subsistência. Isso porque, segundo ele, a construção de canoas não anda muito bem. “Na reserva onde moramos, é proibido retirar madeira sem certificação”, reclama. No entanto, não parou os trabalhos porque ainda aceita as encomendas para construir as canoas quando o dono da embarcação traz as madeiras, evitando que ele entre na floresta. “Pra gente que vive na mata não é fácil, como pensam as pessoas. A gente tem que se virar de todo jeito” enfatiza o carpinteiro. “Fazer canoa ficou mais difícil para gente”, conta.

As fortes lembranças,da época em que remava canoa também não saem da memória de Elias Moraes, que nasceu às margens do rio Amazonas, na cidade de Itacoatiara. Na infância, sempre utilizou o veículo como transporte, seja para ir para escola ou para as comunidades próximas. Na adolescência pintava em quadros a paisagem que enxergava da janela de sua casa. Visão privilegiada do rio, por onde passavam diariamente barcos e canoas.

Porém, a vida ribeirinha nunca saiu das lembranças de Elias. “Toda vez que vejo o rio, logo meus pensamentos voltavam no tempo”, diz ele referindo-se à terra natal. Foi então, que o fotógrafo teve a ideia de fotografar cenas típicas dos ribeirinhos nas canoas, completando assim duas paixões.

No início era apenas um hobby, mas logo ficou mais forte e o projeto de recordação ganhou nome: Canoas no Rio Negro. Foram oito meses para montar o acervo com 800 fotos do cotidiano dos ribeirinhos. Para Elias, “são lembranças da minha vida nas canoas. São para que eu lembre de onde vim”. Elias conta que foi necessário criar uma certa amizade com os canoeiros e só depois fotografá-los.

Personagens com caminhos diferentes, mas com traços idênticos. Suas histórias se assemelham a de milhares de pessoas pela extensão da imensa Amazônia. A canoa, um veículo quase que dotado de vida, sempre foi fonte de inspiração para muitos artistas em todo mundo. Seja na musica, nas artes plásticas, nas poesias ou nas histórias simples de sua gente. Onde ela estiver representa uma nação que usa a força dos braços para vencer as distâncias da continental floresta amazônica.


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