KÁTIA BRASIL
ENVIADA A BOA VISTA
De um lado, um governador já cassado mantido no cargo por meio de liminar. De outro, na expectativa de assumir o mandato, um acusado de compra de votos e alvo de inúmeras ações no STF (Supremo Tribunal Federal).
Esse é o atual cenário político de Roraima, Estado que pode passar por uma nova eleição para governador por conta da situação de seus candidatos na Justiça.
Na última semana, o governador José de Anchieta Jr. (PSDB) foi cassado no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) por uso ilegal de uma rádio do governo.
O segundo colocado na eleição, Neudo Campos (PP), só não foi diplomado por uma decisão provisória do Tribunal Superior Eleitoral. Campos é alvo de 22 inquéritos e ações penais no STF. Governador de RR de 1995 a 2002, ele chegou a ser preso em 2003 pela Polícia Federal.
Em Boa Vista, existe uma espécie de mercado aberto do voto em época eleitoral. Um dia antes do segundo turno, em 2010, a Folha testemunhou moradores pedindo "dinheiro, dinheiro" em ruas da periferia da capital.
Também na última eleição um caso local ganhou repercussão nacional: a Polícia Federal apreendeu um pacote com R$ 100 mil jogado pela janela de um carro.
À Folha tanto Anchieta Jr. como Campos negaram as acusações e condenaram a prática da compra de votos.
"É um atentado contra a democracia", disse o governador tucano. "Acontece porque o povo é pobre", declarou o pepista.
POBREZA
O procurador regional eleitoral Ângelo Goulart Villela diz que a pobreza em Roraima criou "uma cultura do toma-lá-dá-cá". "É alarmante a situação."
Segundo ele, os dois candidatos correm risco de terem o diploma ou o registro cassados. Nesse caso, ocorreria uma nova eleição.
O economista e cientista político Elói Martins Senhoras, da Universidade Federal de Roraima, diz que a grande maioria do eleitorado do Estado está ligada ao setor público, o que amplia a chance de irregularidades.
"É uma sociedade do contracheque, que é extremamente politizada para a manutenção dos seus interesses e, portanto, suscetível à compra de votos."
Roraima tem 451 mil habitantes, sendo 21 mil deles funcionários públicos. O gasto com a folha de pagamento é de R$ 520 milhões.
José Antônio Lima, da ONG Comitê de Combate a Corrupção Eleitoral do Estado, diz que candidatos alimentam a situação desde os anos 90, quando migrantes de outros Estados chegavam bancados pelos governos.
Fonte: Folha de São Paulo
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