Foto: Luis Albuquerque
A história da cidade de Manaus tem início na área central. A capital do Amazonas foi fundada no ano de 1669, em data incerta, com a construção do forte de São José do Rio Negro, localizado onde hoje é o Centro da cidade, em uma área chamada de Largo da Trincheira, que formou seu embrião.
A cidade ocupava toda a ilha de São Vicente, inclusive se sobrepondo a um antigo cemitério indígena.
Foi na região do Largo que os missionários Carmelitas construíram, em 1695, a primitiva matriz batizada de Nossa Senhora da Conceição. De acordo com dados históricos do Iphan e da Manaustur, o Centro iniciou seu processo de urbanização a partir de 1791, com a transferência da sede da Capitania de São José da Barra do Rio Negro, da antiga Mariuá, atualmente Barcelos, para a Ilha de São Vicente, que passa a se chamar Lugar da Barra.
A partir desse momento a aldeia, erguida de taperas, ganha as primeiras construções de alvenaria: um palácio para moradia de seus governadores, além de quartel, cadeia pública, depósito de pólvora, estaleiro e as primeiras fábricas de anilinas, velas de cera, redes e panos de algodão.
O florescimento urbano da cidade, levado a cabo devido à visão empreendedora do governador Lobo D'Almada, chegou a incomodar o então governador do Grão-Pará, Souza Coutinho, a quem a capitania era subordinada, que transferiu, em 1798, a sede novamente para Barcelos. Somente em 1808, o Lugar da Barra volta a ser sede da Capitania de São José da barra do Rio Negro, retornando para a ilha de São Vicente o poder político do futuro Estado do Amazonas.
Em 24 de outubro de 1848, a já denominada Vila de Manaos é elevada à categoria de cidade por força da lei nº 145, deste mesmo ano, batizada agora de Barra do Rio Negro.
A cidade permanece com seu núcleo urbano restrito à ilha de São Vicente, até que em 1874 o forte de São José do Rio Negro é destruído por causa de um grande incêndio ocorrido na noite de São João.
Depois do incêndio, NO LOCAL foi construído a Repartição do Tesouro, órgão semelhante à Secretaria da Fazenda, com prédio existente até hoje nas instalações do Porto de Manaus. Entre AS décadas de 1880 e 1900 Manaus atinge seu apogeu urbanístico e arquitetônico, influenciado diretamente pelo ciclo econômico da borracha, que marcaria em definitivo o espaço, a vida, a economia e a cultura da cidade.
O processo de vulcanização do látex e o aproveitamento industrial da borracha abriram AS portas do desenvolvimento econômico para a Amazônia, atraindo grandes investimentos às principais cidades da região, como Belém e Manaus. Favorecida pela conjuntura mundial da exploração do látex, Manaus inicia um processo acelerado de desenvolvimento urbano que irá transformar a aldeia de palha em uma moderna metrópole, ganhando assim o merecido epíteto de "Paris dos Trópicos".
Nesta época, a extração da borracha acarretava lucro fácil tanto a produtores como a comerciantes e a navegação era tida como primordial para o transporte do produto. Os negócios com a borracha cresciam e começavam a atrair outros tipos de comércio, com diversos estabelecimentos se transferindo de Belém para Manaus. Com este novo cenário, a paisagem da cidade começava também a mudar. Até a primeira metade do século XIX, Manaus não possuía grandes prédios públicos.
Foi neste período que surgiram o mercado Adolpho Lisboa, o Palácio da Justiça e o Teatro Amazonas.
NO ano de 1890, o porto da cidade era formado apenas por alguns trapiches particulares, por uma rampa de catraieiros e pelo trapiche estadual 15 de Novembro.
Os grandes navios ancoravam praticamente NO meio do rio Negro, dada a inexistência de um cais apropriado, os passageiros eram transladados em pequenas embarcações até a margem e AS mercadorias transportadas por alvarengas. AS instalações do porto eram usadas também para o corte e o beneficiamento da borracha. Em 1883, Manaus ganha um novo prédio cuja construção foi um marco na forma como se desenvolveria a arquitetura da cidade.
O mercado Adholfo Lisboa, uma estrutura préfabricada, vinda da Inglaterra, teve sua montagem concluída como um autêntico exemplar europeu da arquitetura renascentista, tornando-se centro de comercialização de produtos regionais. Esta mesma técnica de trazer construções pré-moldadas da Europa para ser montada em Manaus seria repetida com a inauguração do prédio da Alfândega, nas dependências do porto, em 1909.
NO ano de 1889, para viabilizar o escoamento dos produtos do Estado, o Ministério de Viação e Obras Públicas abriu concorrência para a execução de obras de melhoramentos NO porto. A firma vencedora foi a B. Rymkiewicz & Co., que assinou contrato com o governo federal em 1900. NO entanto, AS obras não iniciaram imediatamente, embora a firma tenha pedido adiamento para o início das construções.
Dois anos depois, a B. Rymkiewicz transferiu os direitos de concessão e exploração para a firma inglesa Manaos Harbour Limited, com sede em Liverpool, na Inglaterra.
AS obras de melhoramentos só começaram mesmo em outubro de 1902.
Foi nesta área da cidade, chamada de Centro, que Manaus amanheceu NO século XX, vislumbrando o mundo civilizado pela edificação do Teatro Amazonas, ainda em 1896, para mostras de grandes companhias de óperas vindas da França e da Inglaterra. Corriam sobre os trilhos os primeiros bondes elétricos cortando AS principais ruas já iluminadas pelos lampiões de arco voltaico. AS linhas não eram tantas, mas atendiam à população daquele período. Do Centro, os bondes partiam para os poucos bairros existentes: Aparecida, Cachoeirinha, Vila Municipal e Flores.
BENEFÍCIOS URBANOS
O Ciclo da Borracha se estendeu até por volta de 1916, quando os seringais do sudeste asiático suplantaram a produção de látex da Amazônia. Ao final desse período, o Centro de Manaus ostentava todos os benefícios urbanos que AS mais importantes cidades do mundo usufruíam, como iluminação elétrica, linhas de bondes, calçamento de paralelepípedo, porto flutuante onde navios de todos os calados atracavam, rede de esgoto e construções que rivalizavam, ou imitavam, os prédios símbolos de cidades européias.
O tempo da riqueza fácil havia acabado, mas deixara marcas indeléveis NO coração de Manaus. O Centro não veria grandes transformações em seu perímetro urbano durante todo o decorrer de 1920 até 1960, quando a implantação da Zona Franca de Manaus deu novo alento ao comércio da cidade.
O Centro foi revigorado com o comércio de produtos importados que atraiu grandes lojas e turistas vindo de todos os estados brasileiros para adquirir aqui o que a legislação protecionista do governo federal não lhes permitia comprar em outras cidades do País.
MANAUS MODERNA
Na década de 1990, toda a orla do rio Negro sofre um processo de urbanização, denominada de Manaus Moderna, uma muralha que acompanha toda a margem do rio e se estende do Porto de Manaus até AS proximidades do bairro da Cachoeirinha. Esta obra foi a última grande intervenção urbana do Centro de Manaus, que aguarda agora os resultados do programa Prosamim, prometendo revitalizar os igarapés da cidade e dar novo aspecto a esta importante área da cidade, berço e referência de Manaus. Inúmeros monumentos contam a história da cidade de Manaus Logradouros históricos
A área denominada de Centro Antigo da cidade foi tombada em 1990 pela Lei Orgânica do Município, por meio do Artigo 342, que a identificada como sítio histórico e representa atualmente 10% de toda área sob proteção legal, possuindo monumentos históricos tombados por leis federal e estadual. Sua história tem uma relação direta com o Porto de Manaus desde seus momentos mais importantes dos séculos XVIII e XIX e AS primeiras décadas do século XX NO papel de exportador da economia extrativista da borracha.
O ponto inicial do Centro começa NO igarapé do Educandos com frente para o Rio Negro até a frente da Ilha de São Vicente. Largo da Trincheira (Praça IX de Novembro) Referência histórica para reflexões arqueológicas sobre a possível existência de civilizações paleo-ameríndias.
A praça chamada de IX de Novembro tem sua referência icnográfica marcada NO piso, tendo como monumento dedicado aos Manáos, grupo hegemônico dessa área. O Centro da cidade está associado aos pólos turísticos do mercado Adolpho Lisboa e seu entorno urbanístico, o Paço da Liberdade ou praça Dom Pedro II e o Porto Flutuante.
Esses três atrativos são os marcos urbanos dessa área que abrange até a ilha de São Vicente. Segundo dados documentais dos arquivos do Iphan, o Centro, em primeiro lugar é uma área caracterizada pelo centro comercial.
Em segundo pelo centro de lazer e cultura e o terceiro atrativo une os dois pólos, gerando empregos direto e indireto, recursos e auto-sustentabilidade.
Paço da Liberdade
O Paço da Liberdade (antigo prédio da prefeitura) foi construído em 1876 para ser sede do poder público municipal. Abrigou a sede do governo até 1879 e do governo republicano, até 17 de abril de 1917, quando passou a ser sede do governo municipal.
Prédio em estilo neoclássico composto de linhas sóbrias de proporções clássicas com uma arquitetura tropicalista. Atualmente se encontra em fase de restauração. O prédio após sua reforma abrigará o Centro de Memória da Cidade, além de ser palco para atividades culturais como shows e realizações de oficinas. O espaço, de acordo com o projeto da Prefeitura Municipal vai oferecer também serviços de restaurante e agência bancária.
À frente do Paço da Liberdade, com AS recentes descobertas de urnas funerárias indígenas, segundo pesquisas iconográficas, datadas de aproximadamente mil e trezentos anos, a praça D. Pedro II é a memória viva dos ancestrais amazônidas. O monumento chama atenção para o coreto, o chafariz, o piso e a vegetação.
A praça foi testemunha dos principais momentos da história da cidade desde o período pré-colonial passando pelo Império, República e a criação da Zona Franca de Manaus, além de servir de memória para o resgate da identidade indígena amazônica. Ilha de São Vicente
O conjunto paisagístico mais importante da área é composto pelo antigo hospital militar, erguido em 1852, NO início da província, e tombado pelo governo federal pelo decreto lei nº 45 de 30.11.1937. Nesta área estão localizadas AS ruas Bernardo Ramos, antiga rua São Vicente, que abriga a mais antiga residência do período provincial.
Em estilo colonial brasileiro, foi construída entre 1819 e 1820, servindo de residência para o vereador da província José Casemiro do Prado (português que construiu o primeiro teatro na cidade, todo em madeira, onde funciona o prédio da Capitania dos Portos).
Rua Frei José dos Inocentes, Antiga rua da Independência, sua maior referência histórica são AS partes das casas originais, em sua maioria. Casas térreas, construídas em alvenaria. Seu mais antigo morador. Rua Governador Vitório, antiga rua do Pelourinho, os atrativos da rua são os dois prédios mais importantes da história do Centro.
Os dois em estilos ecléticos europeus é o Hotel Cassina e o segundo é o prédio da Manaus Harbour definindo a paisagem da praça D. Pedro II.
O Hotel Cassina foi construído em 1899, recebendo o nome de seu proprietário, o italiano Andréa Cassina. Teve seus dias de glória NO período áureo da borracha, transformado em seguida em pensão e, na decadência, em cabaré pé de chinelo, atualmente é conhecido apenas por "Cabaré Chinelo".
Praça da Saudade
Batizada pelo povo de Saudade, a Praça 5 de Setembro DATA do início do século passado. Construída na quadra formada pelas ruas Ferreira Pena, Ramos Ferreira, Simão Bolívar e avenida Epaminondas, em plena área central da cidade. Conforme a Carta Cadastral da cidade, a área ocupada pela praça era bem mais ampla, à época do governo Eduardo Ribeiro, desde o antigo cemitério velho chamado de São José (nome também do primeiro bairro de Manaus) - localizado onde atualmente é a sede do Atlético Rio Negro Clube até o Instituto de Educação do Amazonas (LOCAL onde seria construído o palácio do governo).
Um dado curioso da praça na época do governo provincial do Presidente Francisco José Furtado em 1858, o cemitério foi cercado, a praça não passava de um largo com pouca arborização.
Então em 1865, foi proposta pela Câmara Municipal a construção da praça e a proposta de se oficializar o nome de Praça da Saudade.
Não existe nenhum documento que comprove se foi ou não aprovado o nome. O que se sabe é que o povo acabou consagrando o lugar com o nome de Saudade. Outro fato ligado à praça diz respeito à construção do monumento em homenagem a Tenreiro Aranha. A construção do monumento foi uma proposta do vereador Silvério Nery, em 11 de maio de 1883, na época o presidente da Província era José Lustosa da Cunha Paranaguá. Segundo documentos da Manaustur, a Praça da Saudade veio somente a adquirir corpo e forma em 1932, na gestão de Emmanuel Morais com a construção de jardins.
O cemitério nesta época já havia sido fechado. Após a demolição, os restos mortais que haviam NO LOCAL foram transferidos para o São João Batista. O projeto para a nova obra era a construção do horto municipal com exemplares de todas AS palmeiras do vale amazônico.
O nome de Largo ou Praça da Saudade foi batizado pelo povo talvez por está localizada bem em frente ao cemitério de São José, que também emprestava nome ao bairro. A praça foi aberta em 1865, bem depois da construção do cemitério.
De acordo com pesquisas do historiador Mário Ypiranga, o nome da praça pode ter sido também devido a presença de um espanhol de sobrenome Saudade ou de um negro que viveu por volta de 1837, morador da área vizinha à praça, de nome José Pedro Saudade. O negro devia ser um escravo de forro, devido aos bens que possuía. O nome oficial de Praça 5 de Setembro, portanto é em homenagem a DATA da elevação do Amazonas à categoria de Província e uma homenagem a Tenreiro Aranha que tanto lutou pela emancipação do Grão-Pará. Portanto, o nome oficial nunca se tornou popular. O certo é que mesmo o nome oficial estar inscrito na placa da estátua de Tenreiro Aranha, o manauense a conhece apenas por Praça da Saudade.
Praças que contam história da cidade
Luiz de Miranda Correa, NO livro "Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro", relata que desde o governo de Eduardo Ribeiro houve uma preocupação voltada para a construção de praças e jardins como forma de embelezar a cidade. O curioso é observar que AS praças principalmente do centro guardam os traços arquitetônico inglês e os jardins à francesa.
Praça do Congresso (Antônio Bittencourt)
NO final da avenida Eduardo Ribeiro, nas imediações das ruas Monsenhor Coutinho e Ramos Ferreira, está localizada a Praça Antônio Bittencourt, ou melhor Praça do Congresso, um dos mais populares logradouros públicos do Centro, ora por sua localização, ora pela sua importância histórica NO contexto político e social.
O que se sabe é que a praça foi projetada ainda NO período áureo da borracha adotando o nome de Congresso, a partir da realização do 1º Congresso Eucarístico da Igreja Católica realizado NO ano de 1942, ocasião em que foi erguido o monumento à Nossa Senhora da Conceição. Ali começou a construção do palácio do governo, atualmente funcionando o Instituto de Educação do Amazonas.
O prédio onde funcionava o Centro de Saúde da cidade, hoje abriga AS instalações para a agência dos Correios. Da mesma forma que tomou lugar do palacete Miranda Correa, o edifício Maximino Correa. O nome oficial de Antônio Bittencourt, segundo dados históricos em poder da Manaustur, DATA de 21 de agosto de 1908.
Delimitação do Centro
O Centro de Manaus começa NO igarapé dos Educandos com o Rio Negro até o igarapé de São Vicente passando pela rua José Clemente até a Luiz Antony ao igarapé da Castelhana indo até a avenida Constantino Nery, avenida Álvaro Maia até a rua Major Gabriel passando pela rua Ramos Ferreira até o igarape'do Mestre Chico e retornando ao igarapé dos Educandos e Rio Negro.
Fonte: Jornal do Commércio
Portal Amazônia 16/01/2007 - KR
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