Amazônidas falam das expectativas para a Rio+20

13/06/2012

O evento inicia nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro, e deve definir ações com impactos efetivos sobre desenvolvimento sustentável.

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Wallace Abreu portalamazonia

MANAUS – A partir desta quarta-feira (13) os olhos do mundo se voltam para as ações da Rio+20. Até o próximo dia 22 de junho, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável contará com a participação de várias lideranças mundiais, com foco na discussão de ações para um futuro melhor. Ao todo, 102 chefes de Estado e de Governo confirmaram presença no evento, mas três importantes nomes não figuram na lista: o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.


No último dia 1º de junho, os governadores dos nove estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal se reuniram em Manaus durante o Fórum dos Governadores. O evento resultou na criação de uma carta que destaca os principais interesses ambientais destacados pelos amazônidas. Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Roraima, Rondônia e Tocantins chegaram a um acordo referente a ampliação de investimentos na região, especialmente os voltados às fontes de energia renovável, a revisão do Plano Amazônia Sustentável (PAS) e dos baixos índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da região, que representa 60% do território nacional.

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O principal argumento das lideranças da região é que a Amazônia tem feito sua parte para evitar as mudanças climáticas, reduzindo em 80% nos últimos cinco anos o número de desmatamentos, o que segundo os governadores significa a maior contribuição registrada para a redução de gases do efeito estufa, desde o Protocolo de Kyoto.

No documento oficial que será apresentado ao Governo Federal, os governadores propõem a criação de um Conselho de Desenvolvimento Sustentável para a Amazônia, que deve ser composto por representantes dos Estados, União e sociedade civil, além do Programa de Aceleração do Crescimento da Economia Florestal na Amazônia (PAC Florestal), com o objetivo de impulsionar o crescimento do setor florestal. Com as ações, os governadores esperam diminuir as desigualdades sociais e econômicas da região, valorizando os conhecimentos de povos tradicionais e condições históricas, geográficas e culturais da região mais verde do planeta.

Discussões científicas, não políticas

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apresentarão durante exposições, palestras e conferências, resultados relevantes de pesquisas que vem sendo desenvolvidas na região nos últimos anos. Entre os participantes estão Wanderli Tadei e Iléa Brandão. Segundo Tadei, o grupo de pesquisa em Malária e Dengue, da coordenação Sociedade, Ambiente e Saúde do Inpa, realizará demonstrações dos métodos Cal e Cloro e da utilização do cravo da índia no controle da malária e dengue, duas doenças tropicais com alto número de casos nos estados da região. As atividades são resultados de pesquisas que apresentam eficácia satisfatória no combate aos mosquitos.

Segundo o coordenador de extensão do Instituto, Carlos Bueno, as demonstrações de pesquisas e produtos do Inpa acontecerão de 18 a 22 de junho no Galpão 4 do Pier Mauá. Dentre os principais destaques estão os produtos resultados de pesquisas que foram patenteados pelo Instituto. De acordo com Bueno, são resultados que podem contribuir para o crescimento da chamada tecnologia verde, ou economia verde. “Durante a Rio+20, queremos também relacionar o que foi descoberto desde a Rio 92. A partir disso, analisar os pontos positivos e os negativos e pontuar o que ainda precisa ser feito, pelo menos nos próximos vinte anos”, ressaltou.

Bueno destacou ainda que a Amazônia precisa de pessoal para dar seguimento às pesquisas realizadas na região. “Esperamos conquistar mais pessoas para a Amazônia que tenham o interesse em desenvolver pesquisas relevantes sobre esta região”, explicou.


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A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) também participará das atividades da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira, e o diretor do Inpa, Adalberto Val, ministrarão no dia 22 uma palestra intitulada “Economia Verde e CTI na Amazônia: Um projeto Suframa /Inpa visando o futuro”. Durante a explanação, serão apresentas e discutidas novas tecnologias como base para o desenvolvimento econômico, científico e social da Amazônia, além das adaptações necessárias que devem ser feitas na região.
Quem também vai integrar a Delegação Brasileira na Rio+20 é o secretário municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Manaus, Marcelo Dutra. Ele participará como palestrante do Encontro de Secretários de Meio Ambiente dos Estados e Municípios, que acontecerá na tarde do dia 18, no Pavilhão do Rio de Janeiro, e da Reunião para Recomendação dos Governos Locais Regionais e Municipais para um Futuro Sustentável.
O que os amazônidas pensam da Rio+20
No início deste mês, o Ministério do Meio Ambiente divulgou pesquisa que mostrava que apenas 22% dos brasileiros dizem saber o que é a Rio+20. Entre essas pessoas, 89% afirmam saber que a conferência das Nações Unidas vai “mudar a maneira como usamos os recursos naturais do planeta”. Um pensamento otimista nem sempre compartilhados por aqueles que acompanham as notícias sobre a conferência internacional.
Saiba mais:

Amazonenses desconhecem temas de discussões da Conferência Rio+20 

O alto investimento para a organização do evento já inicia desacreditado pela população, que considera a Rio+20 mais uma ação política, repleta de boas propostas, e seguida por um grande vazio na prática.  “O mundo pede socorro e parece que todos se fazem de surdos quando a situação aperta. Estou cansada de ver campanhas de empresas e pessoas que dizem fazer sua parte, mas que na prática não fazem. Não devemos esperar pelo governo, muito menos passar quase dez dias em um evento discutindo o que deve ser feito. Estamos cansados de saber o que fazer. Temos que agir”, argumentou a dona de casa, Keila Marques.
O discurso afiado da dona de casa revela que as pessoas têm consciência do atual cenário ambiental. Nos estados amazônicos, a ajuda de pessoas comuns tem sido fundamental para a construção de ações ambientais eficazes. Porém nem todos terão vez e voz na Rio+20. Com isso, as expectativas ficam concentradas somente nas lideranças políticas que participarão da conferência. De acordo com a secretaria operativa da Cúpula do evento, cerca de 7 mil pessoas estão ameaçadas de não participar da Cúpula dos Povos por falta de transporte. São comunidades tradicionais, como quilombolas, índios e ribeirinhos – a maior parte das regiões Norte e Nordeste – sem condições financeiras de pagar a passagem de ônibus até o Rio de Janeiro.
A estudante Mirlene Gonçalves, 16, espera que as lideranças políticas presentes nas reuniões e conferências da Rio+20 defendam os interesses da região e não se deixem levar por promessas e articulações de outros países. “Precisamos concretizar o que já vem sendo feito na Amazônia. Os trabalhos de educação ambiental frequentemente realizados por órgãos públicos e privados, ONGs e entidades já criaram raízes. Agora, precisamos cultivar estas práticas, com novos incentivos, financeiros ou sociais”, disse a jovem ambientalista.







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