Ministério Público vai investigar morte de idosa operada no HGR

ANDREZZA TRAJANO

O Ministério Público Estadual (MPE) estuda denunciar criminalmente por lesão corporal seguida de morte os médicos Miguel Martinez e Carlos Eduardo Campos Guerra. Foram eles que operaram na última quarta-feira a perna errada da aposentada Edi Maria Kuhn Hirt, 77. Ela morreu no Hospital Geral de Roraima (HGR) menos de 24 horas após o procedimento.

A promotora de Justiça de Defesa da Saúde, Jeanne Sampaio, instaurou Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar o caso. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) instaurou uma sindicância, que tem 30 dias para ser concluída.

Os médicos do HGR implantaram uma prótese na perna direita da idosa, que não tinha problema, e deixaram a perna esquerda com o fêmur fraturado. Martinez foi o responsável pela cirurgia, enquanto Guerra, que é chefe do Serviço de Ortopedia do HGR, atuou como auxiliar. Ambos acompanhavam a aposentada por vinte dias, desde sua internação.

“Ela [dona Edi] tinha uma perna boa, um osso bom, e ele [Martinez] serrou o fêmur, que não é um osso qualquer. Em seguida colocou a prótese. Houve lesão corporal. Ele não tinha motivos para fazer isso. Em razão desse ato a idosa veio a falecer”, disse a promotora, acrescentando que o procedimento foi feito em conjunto com o médico auxiliar.

A promotora rechaçou as declarações do secretário de Saúde, Leocádio Vasconcelos, e do governador Anchieta Júnior, de “que a morte da aposentada não teve relação com o erro médico, por se tratar de uma reação pós-operatória”. O pós-operatório foi por uma cirurgia feita na perna errada, a esquerda. A perna direita, que estava com o osso fraturado, seria operada 48 horas depois. “Esse caso tem que ser melhor apurado, mas, como eu disse, atualmente há fortes indícios de ter ocorrido lesão corporal seguida de morte”, pontuou.

Jeanne Sampaio também questionou o fato de Miguel Martinez ter sido afastado somente de sua função médica e continuar trabalhando administrativamente na Secretaria de Saúde. Ainda indagou por que o médico Carlos Eduardo Campos Guerra continua trabalhando e não foi igualmente afastado.

“Afastamento é afastamento, tem que ficar suspenso até o fim da apuração da sindicância [instaurada pela Secretaria de Saúde], pois pode comprometer o andamento das investigações”, explicou.

A promotora já requisitou cópias dos prontuários de atendimento da idosa no HGR, no Hospital da Unimed, onde a paciente chegou a ser atendida, e no Instituto Médico Legal (IML), onde foi feito o exame cadavérico, para que seja feita uma perícia indireta desses prontuários.

“O perito do IML vai confrontar o exame físico que fez com os documentos da paciente, anotações e exames”, esclareceu. Jeanne Sampaio não descarta pedir a exumação do corpo, se for preciso.

Segundo a promotora, será analisada a conduta adotada pelos médicos desde o procedimento da cirurgia até a ameaça feita à família da vítima. A ameaça, afirma, teria partido do médico Guerra, que teria negado o erro médico e intimidado os parentes de dona Edi, afirmando que os processaria por difamação e calúnia.

Já o médico Miguel Martinez responde a outra sindicância instaurada pela pasta no início deste ano, a pedido do Ministério Público. Ele teria agido com falta de urbanidade contra uma paciente. O MPE também pediu que o Conselho Regional de Medicina (CRM) investigue o caso.

Os médicos são acusados de erro médico, falsificação de documento e ameaça.

OUTRO LADO – A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) disse que não se pronunciará sobre as declarações da promotora. A Folha também tentou contato com os médicos, mas não conseguiu. A Sesau e o CRM informaram que não tinham como fornecer os números de telefone dos ortopedistas.

De acordo com a promotora de Justiça Jeanne Sampaio, a participação da família da aposentada Edi Maria Kuhn Hirt tem sido fundamental nas investigações que apuram o erro médico. A família não só formalizou denúncia no Ministério Público contra os médicos, como subsidiou a promotora com documentos, fornecendo cópia de parte do prontuário médico.

Foi por meio dessa documentação que Jeanne percebeu que um dos laudos de internação tinha sido rasurado. Onde constava a letra E (em referência à perna esquerda), o médico Miguel Martinez teria rasurado por cima a letra D (em referência à perna direita). A família tirou cópia do prontuário antes e depois da cirurgia errada.

“Ficou comprovado que houve a tentativa de adulteração do documento. Se a família não tivesse copiado o documento original, a princípio isso passaria batido. O médico tentou com essa adulteração dizer que ele teria sido induzido ao erro, mas isso tornou ainda mais criminosa a conduta dele”, ponderou.

A promotora diz que o exemplo da família de dona Edi deve ser seguido. “A população deve denunciar casos de suposto erro médico, buscar informações, saber quem é o médico que está lhe atendendo, buscar saber qual é a satisfação profissional dele, reunir documentos”, orienta.

Um comentário:

  1. Oi Luis, coisa boa é viajar!!!Pois é querido, eu de longe continuo acompanhando o que acontece na minha querida cidade. Tudo está o caos. Primeiro o governador maravilhoso que temos disse que tinha melhorado a saúde do Estado em milhares de reuniões políticas que fez durante a campanha. E agora diz que esse caos na saúde já existe há 20 anos. Não queremos saber qt tempo que existe isso, queremos soluções. Ele já está no governo há um tempo e ainda não conseguiu resolver nada??? É de morrer mesmo viu? Lamento pela morte da senhora, realmente lamentável. Tenha um final de semana maravilhoso!

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